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domingo, 11 de julho de 2010

PENSANDO ÉTICA EM NOSSOS DIAS

(Antonio Augusto Waltrick Loureiro)

1. UMA VISÃO DA ÉTICA HOJE

Estamos em um momento no qual se desenha um cenário de difícil compreensão. A cada momento nos deparamos com uma nova notícia sobre os desmandos e a falta de decoro no trato da coisa pública. A todo momento surge-nos a informação de que a violência, as drogas e o crime no ambiente urbano está beirando ao caos. Pais e professores estão perdendo o controle sobre os jovens enfurecidos. O consumo exagerado dos recursos naturais, a utilização de embalagens não degradáveis, a poluição do ar e das águas, o lixo tecnológico e radioativo. Vivenciamos a desordem nas condições do tempo, geradas pela modificação climática resultante da falta de cuidado com o ambiente, o que se dá por ação ou omissão do poder público, do empresariado e da população em geral.
Independentemente de todas as ocorrências acima a sociedade parece estar adormecida, sem conseguir enxergar onde está a falha, ou agir de forma efetiva na busca da solução para o caso.
Será que existe uma solução?
Existirá uma forma efetiva de evitar tais acontecimentos?
O que podemos constatar, a cada momento é a absoluta ausência de princípios norteadores que apontem para o bem, para a paz, para o cuidado, para a alteridade, para o respeito, para a probidade e acima de tudo para o caminho construtivo.
Os conceitos de certo e errado, que a nós foi apresentado pela família, pela escola, pelos ensinamentos religiosos, parecem que desapareceram, que se tornaram obsoletos ou inaplicáveis aos tempos atuais.
Tais fatos conduzem a uma reflexão profunda, a uma busca efetiva de meios de recuperação dos valores esquecidos e de uma paz construída em alicerces fortes e duradouros.

2. ENXERGAR OS FATOS DE FORMA CLARA

Na busca da necessária solução, temos que observar e repensar diversas situações estabelecidas em nosso mundo que impedem ou pelo menos contribuem para a desagregação estrutural.
Existe em nosso meio, milhões de pessoas sem acesso às mínimas condições de dignidade humana. Pessoas para as quais o mundo fecha as portas, a começar pelo poder público que sequer lhes alcança as mínimas condições de educação, acesso ao trabalho e a consequente sobrevivência digna.
Para demonstrar o cenário em sua fria realidade, basta que se imagine um morador de rua, sujo, a muito tempo sem banho, com a barba de meses, com roupas rotas e mal cheirosas, sem cultura e sem trato social em uma fila para obter um emprego, mesmo que de servente. Seria ele recebido pelo recrutador ou mandariam retirá-lo da fila?
Todos já sabemos a resposta.
Assim, a dignidade mantém-se à distância deste “cidadão” brasileiro, que por não ter onde fazer sua higiene, sem roupas pelo menos limpas, sem um cabeleireiro e com a barba por fazer, perde mais uma vez a possibilidade de obter o trabalho e recuperar a dignidade que nunca deveria ter perdido.
Diante de tal quadro, como se pode esperar que o “cidadão” não vá descambar para a criminalidade, buscando sobreviver na sociedade. E assim ele obtém quiçá numa penitenciária o alimento de que necessita, a cama para dormir, mas certamente ficará ainda mais longe da dignidade, o que o torna mais distante da condição humana.
Se olharmos para o trabalho em nossa sociedade, vamos constatar que ele existe para alguns. Os que possuem qualificação precisam obtê-la em maior grau a cada dia. Os menos qualificados, são substituídos em muitas tarefas por máquinas que custam menos, não adoecem, não geram encargos sociais e produzem por logo tempo, sem reclamações, sem sindicatos ou mobilizações.
Além desse fato, temos que pensar no capital especulativo, que a cada dia e em especial em momentos de crise financeira, gera imensa acumulação nas mãos dos investidores, dos banqueiros e do fisco, sem ocupar a mão-de-obra ociosa e sem produzir alimentos, utilidades, serviços ou qualquer outro benefício social, ao abrigo da lei e sob a proteção do Estado.
Ao mesmo tempo, na atividade primária, o pequeno produtor rural, luta para pagar o financiamento dos insumos, para obter preços mínimos mais próximos do justo, contando sempre com a possibilidade de ter a safra frustrada pelas condições de inadequação climática.
Enquanto falamos de pessoas e de trabalho, o mau uso dos recursos naturais faz com que a cada minuto percam-se milhares de árvores nativas em áreas onde elas são de fundamental importância para a própria sobrevivência do planeta. As águas dos rios que abastecem as grandes cidades são maculadas por toneladas de dejetos humanos, de produtos químicos e pelo acúmulo de lixo lançado sem qualquer critério. Depois todos bebem dessa água mal tratada. O ar, do qual todos dependemos para respirar, recebe milhões de metros cúbicos de gases tóxicos, de metano proveniente da decomposição do lixo e da criação de gado e de CO2 da queima de combustíveis fósseis por milhões de motores ao redor do mundo.
Assim sofrem os humanos, os microorganismos, os animais, as plantas, mas ninguém está efetivamente preocupado, interessa produzir, obter o lucro industrial, descartar o lixo pelo menor custo e para os governos, arrecadar impostos. Podemos ver que está faltando muito para que possamos reverter a situação.

3. PARA CONSTRUIR UM MUNDO MELHOR

Precisamos acima de tudo, ser racionais sem perdermos a qualidade do afeto, do apego aos bens humanos, aos bens naturais e continuarmos firmes na busca de soluções efetivas e saneadoras. Estamos num processo de autodestruição, que logo se tornará irreversível se de imediato não começarmos a construir o caminho da volta.
Temos que projetar um mundo onde a dignidade humana seja preservada, no qual os seres humanos tenham acesso à vida abundante por meio do trabalho, por meio da produção de bens que a todos favoreça. Onde cada pessoa que venha a nascer, tenha garantida a possibilidade de sobrevivência digna, que possa obter a cultura necessária, os saberes e a qualificação para viver uma vida produtiva. Temos que resgatar a razão dos empresários e dos governos, no sentido da oportunização de postos de trabalho, mesmo aos que não tenham a "aparência" esperada.
A sociedade tem que novamente humanizar-se, e temos que buscar o caminho para que isso ocorra. A solidariedade tem que estar presente em todos os momentos da vida, na família, na escola, nas ruas, nas empresas, na sociedade. Não podemos esperar um mundo melhor com pessoas vivendo nas ruas, sem posses, sem referenciais, sem qualidade.
O cuidado tem que estar presente, cuidado pelo outro, cuidado pela natureza, cuidado pela vida, o que gera o cuidado por si próprio, o cuidado pelo bem de todos.
Temos que proporcionar a todos um repensar as condições do mundo, construindo princípios em âmbito global, pois na visão de MacIntyre (2001), “A declaração de qualquer princípio universal é, no fim das contas, uma expressão das preferências da vontade do indivíduo e, para essa vontade, seus princípios têm e só podem ter a autoridade que ele escolheu lhes conferir ao adotá-los”, daí a importância de uma efetiva ação educativa. Cabe-nos, portanto, educar aos jovens e inserir os demais, nessa construção para que se processe a mudança.
Precisamos acima de tudo reavivar os princípios éticos, construir uma nova trilha a ser seguida por todos os que queiram viver em um mundo melhor, em uma sociedade mais justa, em uma cidade mais segura, com mais dignidade, confiança, segurança e consciência.

4. REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO
LIVROS:
MACINTIRE, Alasdair. DEPOIS DA VIRTUDE. Bauru, São Paulo: EDUSC, 2001.
BOFF, Leonardo. ETHOS mundial: um consenso mínimo entre os humanos. Brasília: LETRAVIVA, 2000.
TEXTOS:
GUARÍGLIA, Osvaldo – Ética e Política. Ed. UFRGS-Goethe-Instituto/ICBA, 1993
BOFF, Leonardo – Reflexão A Ética e a Formação de Valores na Sociedade. Instituto ETHOS, 2003