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domingo, 21 de junho de 2009

Consumo x Ambiente

Vários estudos têm alertado que tanto a população da Terra quanto seus níveis de consumo crescem mais rapidamente do que a capacidade de regeneração dos sistemas naturais. Um dos mais recentes, o relatório Planeta Vivo, elaborado pela ONG internacional WWF, estima que atualmente três quartos da população mundial vivem em países que consomem mais recursos do que conseguem repor. A reportagem é de Andrea Vialli publicada pelo portal do jornal O Estado de S. Paulo, 15-05-2009.
Só Estados Unidos e China consomem, cada um, 21% dos recursos naturais do planeta. Até 1960, a maior parte dos países vivia dentro de seus limites ecológicos. Em poucas décadas do atual modelo de produção e consumo, a humanidade exauriu 60% da água disponível e dizimou um terço das espécies vivas do planeta. Segundo o estudo do WWF, o colapso ambiental pode custar ao mundo US$ 4,5 trilhões por ano em reparações. E, apesar das promessas de que o crescimento do PIB reduziria a pobreza, as desigualdades econômicas se mantêm: a cada US$ 160 produzidos no mundo, só US$ 0,60 chegam efetivamente aos mais pobres. “O argumento de que o crescimento econômico é a solução já não basta. Não há recursos naturais para suportar o crescimento constante. A Terra é finita e a economia clássica sempre ignorou essa verdade elementar”, afirma o ecoeconomista Hugo Penteado, autor do livro Ecoeconomia – Uma Nova Abordagem. Penteado não está sozinho. A urgência dos problemas ambientais e suas implicações para a economia das nações têm sido terreno fértil para o desenvolvimento da ecoeconomia, ou economia ecológica. Assim como as críticas ao PIB, a ecoeconomia não é exatamente nova. Seus principais expoentes começaram a surgir na década de 1960. Hoje, estão paulatinamente ganhando projeção graças à visibilidade que o tema sustentabilidade conquistou. Para essa escola, as novas métricas para medir o crescimento da economia não bastam, embora sejam bem-vindas em um processo de transição. Para a ecoeconomia, é preciso parar de crescer em níveis exponenciais e reproduzir – ou “biomimetizar” – os ciclos da natureza: para ser sustentável, a economia deve caminhar para ser cada vez mais parecida com os processos naturais. “A economia baseada no mecanicismo não oferece mais respostas. É preciso encontrar um novo modelo, que dê respostas a questões como geração de empregos, desenvolvimento com qualidade e até mesmo uma desmaterialização do sistema. Vender serviços, não apenas produtos, e também produzir em ciclos fechados, sem desperdício”, afirma Paulo Durval Branco, professor da Escola Superior de Conservação Ambiental e Sustentabilidade (Escas). Segundo Branco, embora as empresas venham repetindo a palavra sustentabilidade como um mantra, são pouquíssimas as que fizeram mudanças efetivas em seus modelos de negócio. O desperdício de matérias-primas, o estímulo ao consumismo e a obsolescência programada (bens fabricados com data certa para serem substituídos ) ainda ditam as regras. “Mesmo nas companhias que são consideradas vanguarda em sustentabilidade, essas questões não estão sendo observadas. O paradigma vigente é crescer, conquistar mais consumidores, elevar o lucro do acionista.” Estacionária Outro pilar da ecoeconomia é a defesa do estado estacionário – conceito reformulado pelo economista Herman Daly, da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, com base nas ideias de John Stuart Mill, um dos pais da economia política do século 19. Daly, que foi economista sênior do departamento de Meio Ambiente do Banco Mundial, defende que “a economia sustentável deve, em algum ponto, parar de crescer. Embora isso não signifique, necessariamente, parar de se desenvolver.” A transição rumo à economia sustentável proposta por Daly implica eliminar o fator quantidade. A produção de bens seria limitada à necessidade de reposição dos itens. Produtos de vida mais longa poderiam ser substituídos mais lentamente, com menor impacto sobre os recursos naturais. Nesse cenário, o fabricante prestaria serviços vinculados a bens alugados, como manutenção, recolhimento e reciclagem ao fim de sua vida útil. No setor financeiro, a ausência de crescimento provavelmente faria que os juros caíssem. E também traria mudanças no alvo do sistema tributário. “Me parece razoável taxar o que queremos evitar, o esgotamento de recursos e a poluição, e deixar de taxar o que mais queremos, a renda.”

Moral e Política

Tem o Político Direito de Mentir?
Por Hans Küng

Sob o título acima, Hans Küng, teólogo e presidente da Fundação Ética Global, publicou no jornal La Stampa, 5-5-2008, o seguinte artigo.
Uma pergunta ética crucial para o sucessor de Bush é: um Presidente deve mentir? Há circunstâncias nas quais é constrangido a fazê-lo? O ex-secretário de Estado Kissinger não tem dificuldade em justificar as mentiras. Sustenta que o Estado, e por isso o estadista tenha uma moral diversa daquela do cidadão. Pôs em prática esta teoria nos seus anos da administração Nixon e mais tarde a defendeu energicamente no seu ensaio “Diplomacy” (1994, “A arte da diplomacia”), citando figuras históricas que ele admira, como Richelieu, Metternich, Bismarck e Roosevelt.
Quando eu lhe disse que aquele gênero de política do poder me parecia inaceitável, ele me respondeu, não sem ironia, que os teólogos vêem as coisas “do alto”, enquanto os homens de Estado as observam “de baixo”.
Fiz a mesma pergunta sobre a mentira e a ética política a um amigo comum, o ex-chanceler da Alemanha federal Helmut Schmidt, por ocasião da Conferência de Ética Global que ele apresentou na Universidade de Tübingen: “Henry Kissinger diz que o Estado tem uma moral diversa daquela de um individuo – a velha tradição dos tempos de Maquiavel. Um político que se ocupe de assuntos externos tem realmente direito a uma conduta especial?”
Schmidt replicou: “Estou firmemente convencido que não existe uma moral diversa para o homem político, também para aquele que se ocupa de negócios exteriores. A idéia oposta foi defendida por muitos políticos na Europa do século XIX. Talvez Henry Kissinger ainda esteja vivendo no século dezenove… Não sei. Nem sei se ele hoje ainda defenderia aquele ponto de vista”.
Aparentemente sim. Em sua recente recomendação de um maior envolvimento militar na guerra no Iraque e no Afeganistão, Kissinger demonstrou ser um político de poder que pensa em termos maquiavélicos. Porém recentemente se empenhou a favor do desarmamento nuclear total – uma contradição ou um sinal de sabedoria advindo com a idade?
Questões de ética também são discutidas nos encontros do InterAction Council, o clube dos ex-chefes de Estado e de governo, do qual sou conselheiro acadêmico. Recordo-me que em 1997 nenhuma questão concernente à Declaração Universal das responsabilidades do homem analisada pelo Conselho foi tão intensamente discutida quanto a pergunta “Mentir?”. O artigo 12 daquela declaração se refere à sinceridade e recita: “Ninguém, embora seja alto o poder, deveria mentir”.
Segue, porém, imediatamente um contrapeso: “O direito à privacidade e à discrição pessoal e profissional seja respeitado. Ninguém é obrigado a dizer a verdade sempre e a todos”.
Por conseguinte, embora com todo o amor pela verdade, esta não é aplicada com fanatismo. Não exageremos. Os políticos são seres humanos e também uma pessoa sincera pode mentir, quando se encontra em dificuldade. Não estou falando de mentiras contadas por gracejo, mas de mentiras intencionais. Uma mentira é uma declaração que contrasta com as idéias de quem a diz e visa enganar os outros por alguma vantagem pessoal ou dano de outro.
Nos Dez Mandamentos citados em Êxodo 20:16 se lê: “Não dar falso testemunho nas relações com os outros”.
O ex-ministro das Relações Exteriores de um país do Sudeste asiático me disse certa vez sorrindo que uma de suas antigas definições de embaixador era: “Um homem mandado ao exterior pode mentir”. Hoje, no entanto, uma diplomacia eficaz já não pode mais ser construída sobre aquela teoria. Na época de Metternich e Talleyrand dois diplomatas ainda podiam mentir um ao outro. Hoje, ao invés, uma diplomacia secreta eficaz requer franqueza, não obstante as mais atuais táticas de negociação. Os truques sujos e os enganos de longo prazo não compensam. Por quê? Porque minam a confiança. E, sem confiança é impossível uma política que dê forma ao futuro.
Assim, a primeira virtude diplomática é o amor pela verdade, segundo o que escreveu o diplomata britânico Sir Harold Nicolson em seu clássico de 1933 “Diplomacy” – que, incidentalmente, Kissinger cita somente de má vontade na página do copyright de seu “Diplomacy” (e depois ignora).
Isto significa que estadistas como Thomas Jefferson tinham razão: existe uma única ética. Os políticos e os homens de Estado não têm direito a uma moral especial. Os critérios éticos que se aplicam aos indivíduos se aplicam também aos Estados. Nem mesmo os fins políticos justificam os meios imorais.
Assim, a verdade, que foi reconhecida pelo Iluminismo como a pré-condição da sociedade humana, vale não só para os cidadãos comuns, mas também para os políticos – e, mesmo, sobretudo para os políticos. Por quê?
Porque os políticos têm uma responsabilidade partIcular pelo bem comum e, ainda mais, gozam de um número considerável de privilégios. É compreensível que, se mentem publicamente e rompem a palavra dada (sobretudo após as eleições), isto seja usado contra eles e que nas democracias eles paguem um preço: com a desconfiança e a perda da credibilidade, dos votos nas eleições, de seu próprio cargo.
As mentiras pessoais, como aquelas do ex-presidente dos EUA Bill Clinton no escândalo Lewinsky, são péssimas. Mas, o que é pior é a falsidade que entra no coração dos indivíduos e de suas atitudes de base (pode-se ver isso com o presidente Bush nos últimos
cinco anos da guerra no Iraque).